Culturas unidas pelas águas
A rica hidrografia do Pantanal brasileiro deságua muito
longe dos limites da América do Sul, indo parar nos Estados Unidos, mais
precisamente no rio MississipPi, que banhou toda a cultura musical
norte-americana. Se geograficamente essa afirmação parece uma loucura, na
poesia do espetáculo “Do Pantanal ao MississipPi”, isso é perfeitamente
possível. E mais: fica claro que em todo violeiro brasileiro, mora um bluesman.
E vice-versa.
O espetáculo nasceu da cabeça do músico Agnaldo Araújo,
que residente em Campinas, no interior de São Paulo, sempre transitou muito bem
do rock às mais escondidas tradições da música da região Centro-Oeste. “Durante
uma participação minha no projeto Circuito Brasil de Viola Instrumental tive
contato com vários tipos de violas, a maioria pouco conhecida do grande
público. Também aprendi algumas afinações”, relata o cantor que assina a
concepção artística do espetáculo que mescla teatro, poesia e música.
A leitura da autobiografia do roqueiro inglês Keith
Richards foi o complemento que Araújo precisava para ligar a tradição caipira
ao blues. “No livro ele fala bastante da maneira pouco usual que ele gosta de
afinar seu instrumento, e percebi que essas afinações, aprendidas com os
grandes mestres do blues, eram similares aos dos grandes violeiros
pantaneiros”, compara. Estava dada a inspiração do espetáculo que agora estreia
para o grande público.
Para acompanhar essa viagem entre essas duas culturas
rurais aparentemente tão distintas, o espetáculo propõe um “guia turístico”
bastante inusitado: o próprio satanás, figura bíblica presente no imaginário
tanto do sertanejo brasileiro, quanto dos moradores do sul dos EUA, onde o
blues nasceu. É ele (o Cramunhão!) que sai das águas pantaneiras, enfeitiça
moças, parte para o estrangeiro, faz um pacto com Robert Johnson e volta para
cruzar com nomes como Tião Carreiro, Luiz Gonzaga e outros abençoados da nossa
cultura.
Acompanhado dos músicos Paulo Ferraz (percussão), Sylvio
Passos (gaita) e Carlos Kbelo (baixo), Agnaldo Araújo passeia com desenvoltura
por clássicos caipiras (Pena Branca e Xavantinho, Zé do Norte), blues (Muddy
Waters, Flávio Guimarães) e rocks (Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd), além
de composições próprias, algumas feitas especialmente para essa montagem, como
as belas “Canoa Rio Abaixo” e “Do Pantanal ao Mississipi”. E em várias delas é exibida
uma grande diversidade de violas, numa demonstração da riqueza de nossa cultura
popular.
“Do Pantanal ao Mississipi” é um deleite aos ouvidos e imaginação. E uma prova que para a arte não existem limites geográficos que não possam ser ultrapassados. Boa viagem!
“Do Pantanal ao Mississippi”, além de tudo, é um projeto de pesquisa desenvolvido por Agnaldo Araújo ao longo de 4 anos e traz a diversificação da Viola Caipira brasileira com um repertório inusitado trazendo Blues, Rock, música pantaneira e composições autorais, tudo com arranjos para violas nas afinações Cebolão Ré, Rio Abaixo, Rio Acima e também para Viola de Cocho Cuiabana (afinação canotilho solto), onde é acertadamente acompanhado pelo baixo de Carlos Kbelo, pela percussão de Paulo Ferraz e pelas gaitas de Sylvio Passos, que é conhecido em todo Brasil por ter sido amigo pessoal de Raul Seixas e ser o Presidente e Fundador do maior Fã Clube do artista no Brasil, o Raul Rock Club/ Oficial Fã Clube desde 1981.
com o Moda de Rock, Zé Helder e Vignini
confira os videos abaixo:
(*afinação Rio Abaixo)
(*afinação Cebolão Ré)
(*afinação Canotilho Solto)
(*afinação Rio Abaixo adaptada)
no Festival FeNaCrupe em Uberlândia
(*afinação Cebolão Ré)
(*afinação Cebolão Ré)
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